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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Saudosismo sim.


 


                 Mais um ano se passou e outro se inicia. Quanta coisa mudou em apenas 365 dias. Mas, na verdade, sinto saudades não do ano que se encerrou, mas de um tempo que passou e que nem sequer vivi nele.

            Falo de um Brasil, e de um Rio de Janeiro que não voltam mais. Sinto falta de Getúlio Vargas, da Radio Nacional, dos Cinemas da Cinelândia, do Maracanã lotado com 200 mil pessoas, da Livraria da Travessa como nos velhos tempos, da Confeitaria Colombo, do Bondinho cortando os bairros da cidade, dos homens elegantes vestindo seus ternos e as mulheres com seus vestidos longos, do Mustang 1966, de Ary Barroso, Mário Filho e Nelson Rodrigues, do Flamengo sem o aterro, das favelas sem o crack, do Palácio do Catete como centro político, o Expresso da vitória de Flávio Costa, das praias sem a poluição dos dias atuais. E o Palácio Monroe que falta nós faz, projetado pelo General Francisco Souza Aguiar para a Exposição Internacional de Saint Louis em 1904.

            Como eu queria voltar no tempo e deixar de lado toda a  modernidade  do século XXI, como a internet, o telefone celular, a televisão e de tudo que muitas vezes acaba por desagregar ao invés de integrar.

            Sou pretencioso e quero mais, quero sentar num barzinho na Lapa sem me preocupar com o amanhã. Quero as feiras livres com frutas e legumes de primeira e a um preço justo.

            Esquecer dos carros modernos que tiram por completo o prazer de dirigir, de sentir o motor pedir a marcha. 

             Por fim, esquecer a falta de comprometimento com a coisa pública, tão em voga pelos atuais governantes.

               Quero o Rio da Copa de 1950 e não da de 2014. Quero o Bangu e o América disputando a final do campeonato carioca novamente.
            
               Quero as festas juninas nas praças com fogueira e quentão, quero  rosca de reis no dia 06/01, quero um carnaval de rua em blocos alegres e não um sambódromo mecanizado e marcado pelo luxo dos patrocínios.  Quero mais, quero pegar doce em dia de Cosme e Damião sem os perigos do Dia a Dia. Quero pegar o trêm na Central do Brasil e ir para o Vale do Paraíba.


                Como eu gostaria de ter um relógio e mudar o tempo, impedir JK de levar a Capital para Brasília a um custo pago por nós até os dias de hoje.
             
               Saudades e mais saudades e para por fim, nada como a música Rio Antigo do brilhante Chico Anysio, e imortalizada pela voz da marron Alcione.
                
               Quero um bate-papo na esquina
               Eu quero o Rio antigo
               Com crianças na calçada
               Brincando sem perigo
               Sem metrô e sem frescão
               O ontem no amanhã
               Eu que pego o bonde 12 de Ipanema
               Pra ver o Oscarito e o Grande Otelo no cinema
               Domingo no Rian
               Me deixa eu querer mais, mais paz
               Um pregão de garrafeiro
               Zizinho no gramado
               Eu quero um samba sincopado
               Taioba, bagageiro
               E o desafinado que o Jobim sacou
               Quero o programa de calouros
               Com Ary Barroso
               O Lamartine me ensinando
               Um lá, lá, lá, lá, lá, gostoso
               Quero o Café Nice
               De onde o samba vem
               Quero a Cinelândia estreando "E o Vento Levou"
               Um velho samba do Ataulfo
               Que ninguém jamais gravou
               PRK 30 que valia 100
               Como nos velhos tempos
               Um carnaval com serpentinas
               Eu quero a Copa Roca de Brasil e Argentina
               Os Anjos do Inferno, 4 Ases e Um Coringa
               Eu quero, eu quero porque é bom
               É que pego no meu rádio uma novela
               Depois eu vou à Lapa, faço um lanche no Capela
               Mais tarde eu e ela, pros lados do Hotel Leblon
                      Um som de fossa da Dolores
               Uma valsa do Orestes, zum-zum-zum dos Cafajestes
               Um bife lá no Lamas
               Cidade sem Aterro, como Deus criou
               Quero o chá dançante lá no clube
               Com Waldir Calmon
               Trio de Ouro com a Dalva
               Estrela Dalva do Brasil
               Quero o Sérgio Porto
               E o seu bom humor
               Eu quero ver o show do Walter Pinto
               Com mulheres mil
               O Rio aceso em lampiões
               E violões que quem não viu
               Não pode entender
               O que é paz e amor